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Entre o tambor e o coração: o legado espiritual de Carlos Sauer

  • Foto do escritor: christiana araripe
    christiana araripe
  • 10 de nov.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 12 de nov.


Por Chris Araripe


Nascido no Rio de Janeiro, em 1959, Carlos Sauer sempre acreditou que a vida é feita de luz e sombra. Essa dualidade o acompanha desde cedo — e foi ela que o levou a uma jornada de autoconhecimento e cura que atravessou décadas, continentes e dimensões espirituais.

“Eu tive uma fase extremamente maravilhosa e também muito difícil, porque tudo é luz e sombra”, lembra ele.

O terapeuta holístico Carlos Sauer
O terapeuta holístico Carlos Sauer


Criado em plena ditadura militar, nos anos 70, quando liberdade era sinônimo de resistência, Carlos viveu intensamente os desafios de ser um homem sensível numa época marcada por valores machistas.


“Por ser muito sensível, eu sofri alguns traumas. E no momento em que eu sofri esses traumas, eu ativei uma necessidade de buscar o autoconhecimento para conseguir a autocura.”

Essa busca começou cedo — aos 11 anos de idade — e se transformou em um propósito de vida. O menino curioso, que sentia o mundo de forma profunda, cresceu cercado por práticas espirituais. Sua família espírita realizava o Evangelho do Lar e sessões em casa.


“Isso me ajudou muito e abriu a minha cabeça”, conta.

Mas a curiosidade de Carlos foi além do espiritismo. Ele mergulhou na astrologia para compreender suas tendências e emoções, e na numerologia para desvendar os mistérios de sua alma.


“Eu achava que tinha algo errado comigo. Então fui buscar a astrologia para entender quem eu era e por que eu sofria tanto”, lembra.

O chamado dos ancestrais


A virada espiritual definitiva veio em meados dos anos 1990, quando foi adotado por um ancião da tribo Cheyenne, Nelson Turtle.



O pai adotivo Nelson Turtle, ancião da tribo Cheyenne.
O pai adotivo Nelson Turtle, ancião da tribo Cheyenne.

“Ele me adotou como filho, para me passar um conhecimento espiritual que só poderia ser transmitido de pai para filho”, explica Carlos.

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Esse encontro foi um divisor de águas. A partir dali, ele passou a viver — e não apenas estudar — os ensinamentos do xamanismo.


“Eu comecei a experimentar tudo na pele. Tudo que eu aprendi no espiritismo e no xamanismo, eu trouxe para o corpo, para sentir o que fazia sentido e o que proporcionava cura.”

Da convivência com líderes espirituais indígenas, tanto da América do Norte quanto do Brasil, Carlos desenvolveu um método próprio, unindo sabedorias ancestrais com o olhar sensível do terapeuta holístico. Hoje, suas cerimônias, rituais e atendimentos são convites para uma reconexão com a natureza — e consigo mesmo.



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A cura através do círculo sagrado


Para Carlos, a humanidade adoeceu quando se afastou do que ele chama de “círculo sagrado”: a harmonia entre o homem e a natureza.


“Nós, seres humanos, fomos afastados do círculo sagrado, da união com a natureza e com todos os seres vivos.”

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Em seus rituais, como a Tenda do Suor, uma das práticas de purificação mais antigas do planeta, ele resgata esse elo esquecido.


“A Tenda do Suor é um útero da Terra. Uma cerimônia de mais de 25 mil anos, presente em várias culturas, usada não para prazer, mas para cura e renascimento.”

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Carlos explica que as doenças modernas — estresse, ansiedade, depressão e vícios — são sintomas de um desalinhamento espiritual.


“O que eu faço não é curar ninguém. Eu ofereço ferramentas para que cada um promova sua própria autocura”, afirma.

Entre essas ferramentas estão o tambor, o chocalho, o canto nativo e o poder dos elementos: fogo, água, ar e terra.


“O meu rivotril é o meu chocalho. Eu canto a minha angústia, a minha tristeza e deixo que elas se transformem. Eu não brigo com as minhas emoções, eu aprendo com elas.”

Cerimônias, ciclos e reconexão


Cada atendimento individual com Carlos Sauer é uma jornada simbólica. Ele analisa os ciclos de sete anos da vida de cada pessoa, relacionamentos, fases de transição e encerramento de etapas. Depois, conduz defumações, rezos e cânticos para ajudar o cliente a liberar emoções em desequilíbrio.


Entre seus rituais mais tocantes está o “Morte e Renascimento”, voltado a quem deseja se libertar de vícios ou encerrar ciclos.


“A pessoa é envolta num pano vermelho, com uma pena de águia sobre o coração, simbolizando a morte simbólica do passado. Depois, eu faço o canto de ninar, para que ela renasça equilibrada entre o masculino e o feminino”, explica.


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Essas experiências, segundo ele, não têm caráter religioso, mas filosófico e natural.


“O xamanismo vem de uma época em que nem existia a palavra religião. É uma filosofia de vida. Um modo de viver em harmonia com tudo e com todos.”


Do trauma à missão


Com mais de quatro décadas dedicadas ao xamanismo e cinco no espiritismo, Carlos Sauer é um dos grandes difusores do xamanismo contemporâneo no Brasil. Ele acredita que a cura coletiva começa no amor — sobretudo o amor incondicional.


“Amor incondicional é a melhor ferramenta de cura que existe. Precisamos amar mais a nós mesmos e rezar até por quem nos faz sofrer, porque toda agressão é um grito de dor.”

Hoje, ele prepara a inauguração de um novo espaço na Gávea, no alto da montanha, cercado por mata exuberante. Será um ponto de encontro para rituais à beira da fogueira, cânticos, rezas e vivências de autoconhecimento.


“Ali, a gente reza pelo bairro, pela cidade, pelo Brasil e pela humanidade. Criamos uma energia de amor incondicional capaz de afetar tudo e todos positivamente. É simples assim.”


Viver o círculo da vida


Para Carlos, viver em harmonia é voltar ao formato original da existência: o círculo. Ele fala com paixão sobre esse símbolo universal.


“Nenhum pássaro faz ninho quadrado. O tatu cava sua toca em círculo. As árvores têm anéis circulares. As ondas, os planetas, as estrelas — tudo é círculo. Nós, seres humanos, nos afastamos do círculo sagrado e por isso adoecemos.”

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Mais do que um terapeuta, Carlos Sauer é um mensageiro do equilíbrio entre o céu e a terra. Sua missão é lembrar o que a pressa moderna fez o homem esquecer: que a cura começa dentro, mas se completa no encontro com a natureza.


“A Terra é a nossa grande mestra. Quando nos reconectamos com ela, nos reconectamos com o Criador. E é nesse círculo que encontramos a verdadeira paz”, conclui.

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Contatos:


@carlossauertradicoesnativas

 
 
 

1 comentário


izabel
11 de nov.

O Carlos Sauer é extraordinario!!!!! A energia mais incrível que já convivi!!!

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